2020 - Uma safra memorável
Publicado a(s) 14:24h do dia 28/04/2020
Na publicação de dezembro passado comentei que 2020 prometia ser uma safra de alto nível. Tínhamos escapado da forte geada que atingiu a região no final de setembro e o ciclo iniciava com clima bem adequado àquele momento, evidenciado pelas cores das folhas, brotos e formação dos cachos.
Mesmo com a intuição desenvolvida em anos de observação nos vinhedos, não poderia prever a fantástica safra cuja colheita encerramos no dia 08 de abril de 2020. A pouca chuva da primavera, com exceção do mês de outubro, se estendeu até o final da colheita. A seca pronunciada trouxe problemas para o desenvolvimento de outras frutas e para o abastecimento de água nas cidades da Serra Catarinense, mas foi uma dádiva para as uvas. Nos últimos 60 dias de maturação choveu somente em dois deles. Sol e calor de dia, juntamente com o frio à noite fazem a combinação perfeita para uma grande safra. Anunciamos isto na abertura da Festa da Vindima no dia 06 de março e confirmamos no último dia de trabalho os vinhedos.
Por condições que ainda não decifrei, neste ano a última variedade a ser colhida foi a Sangiovese, quando normalmente é a Cabernet Sauvignon. Algumas uvas passificaram no engaço, concentrando açúcares e exibindo uma sanidade poucas vezes alcançadas. Pela primeira vez senti uma espécie de desassossego em colher aqueles cachos perfeitos, como se eles pudessem se eternizar nos ramos, exibindo toda a perfeição que buscamos incansavelmente ano após ano.
Com este clima, sem nenhum tratamento nos últimos 60 dias, as leveduras desfilavam exuberantes pelas uvas. Com exceção do Rosé e Sauvignon Blanc, todos os outros vinhos fermentaram espontaneamente, os aromas na vinícola durante os processos eram muito limpos, os mostos mostrando cores intensas, as borras pareciam tortas de uvas.
Os únicos atrapalhos foram as aves que se fartaram nas deliciosas frutinhas, o que nos desestimulou de tentar novamente elaborar um vinho de colheita tardia de Sauvignon Blanc. Além do que, com um clima deste, não teríamos a botritis nobre a nos beneficiar.
As paisagens magníficas deste outono inesquecível, pintando de verde claro, amarelo, dourado, marrom e vermelho intenso as folhas das videiras, contrastavam com o límpido azul do céu, com o verde escuro das araucárias e com o cinza claro das taipas centenárias.
Não fosse a chegada do fatídico vírus impedindo as comemorações desta excelente safra e das festas das vindimas, teríamos tido o outono perfeito. Os vírus vêm e vão, mas vinhos ficam e nos darão muitos motivos para celebrar esta fantástica safra de 2020.
Ainda neste ano iremos apresentar com muito orgulho, o Rosé 2020, o Sauvignon Blanc 2020 e o ELI Pinot Noir 2020. Outros ainda irão permanecer nos barris e barricas, alguns teremos que esperar por quatro anos até que estejam em plena forma. Mas certamente iremos exibir tintos de alta gama, que pela maturação, acidez e teor alcoólico terão uma longa vida pela frente. Basta esperar e provar!!
Saúde! E bons vinhos...