O que tem o vinho

O que tem o vinho

por Eduardo Bassetti

Neste espaço, o vinho é o sujeito principal. Desde a história, até as técnicas atuais de elaboração, os temas aqui tratados passam pelo plantio das uvas, cuidados com os vinhedos, processos de fermentação e curiosidades do mundo do vinho, sempre com a colaboração de um apaixonado por fazer e beber vinhos.

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A difícil safra 2018

Publicado a(s) 17:16h do dia 24/05/2018

Foto: Vinhedos Villaggio Bassetti / Arquivo VB

Como acontece em todo o mundo vitícola, desejamos ter somente boas safras e em nosso caso não é diferente. Mas a natureza não é exatamente previsível, sempre nos brinda com surpresas. No dia-a-dia de um vinhedo nos deparamos com muitas nuances de clima que nos obrigam um grande esforço para atingir os resultados desejados. E muitas vezes em anos particularmente complicados obtemos resultados superiores aos de anos mais “normais”.

Em 2016, uma safra particularmente difícil, nosso Sauvignon Blanc obteve 92 pontos no Guia Adega de Vinhos do Brasil, sendo classificado como melhor Sauvignon Blanc e melhor Vinho Branco Brasileiro. Também foi citado pelo crítico Jorge Lucki como o melhor vinho branco nacional degustado por ele em 2017 (Este áudio foi ao ar na CBN Brasil no dia 20/12/2017). Um resultado excepcional para uma safra bem difícil!

Mas vamos à safra 2018...

O inverno do ano anterior tem grande influência na safra do ano seguinte. No inverno de 2017 tivemos as baixas temperaturas concentradas em alguns períodos, intercaladas por momentos mais amenos, o que prenunciava a possibilidade de ondas de friotardias. E um frio repentino chegou na madrugada de 22 para 23 de outubro com o termômetro batendo 2,5 oC negativos! Os campos e os vinhedos amanheceram brancos...

É muito difícil saber o quanto a geada queimou logo nos primeiros momentos, ainda passam muitos dias até podermos avaliar melhor os prejuízos. Quanto mais recente for a brotação, mais o frio afeta a produção. Os raminhos recém brotados têm mais águas nas células que congelam nas temperaturas abaixo de zero, como as garrafas que esquecemos no congelador (quem nunca fez isto...??) e acabam rompendo a célula porque a água aumenta de volume quando congela. Assim, vamos percebendo que muitos daqueles ramos, alguns já com pequenos cachos em formação, ficam escuros com o passar dos dias.

O estrago é maior nas partes mais baixas, pois como o ar quente é mais leve, o frio fica na parte inferior provocando a queima da grama e dos brotos. Resta-nos retirar os brotos queimados para estimular a circulação da seiva e tentar salvar ao menos as plantas.

Na maioria das vezes os danos são mais severos nas variedades mais precoces, principalmente a PinotNoir, que dentre as variedades que cultivamos é a que brota mais cedo. Em seguida vem a Sangiovese, depois a Sauvignon Blanc, a Merlot, a Syrah e por último a Cabernet Sauvignon.

Neste ano aconteceu o contrário, a geada afetou as variedades mais tardias, como Cabernet Sauvignon e Merlot, deixando incólumes a PinotNoir e Sangiovese.

Foi um ano em que nosso trabalho se voltou para recuperar os vinhedos e manter equilibradas as plantas que conservaram uma produção normal. Embora com uma safra bem menor e com um intenso trabalho de campo, estamos esperando elaborar alguns vinhos muito especiais, como aconteceu em 2016. E quem sabe colhamos também mais alguns prêmios...

Saúde! E bons vinhos...

Foto: Vinhedos Villaggio Bassetti / Arquivo VB

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