O que tem o vinho

O que tem o vinho

por Eduardo Bassetti

Neste espaço, o vinho é o sujeito principal. Desde a história, até as técnicas atuais de elaboração, os temas aqui tratados passam pelo plantio das uvas, cuidados com os vinhedos, processos de fermentação e curiosidades do mundo do vinho, sempre com a colaboração de um apaixonado por fazer e beber vinhos.

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A desafiadora safra 2021

Publicado a(s) 11:50h do dia 12/08/2021

Colheita Sauvignon Blanc. Créditos: Eduardo Bassetti.

Depois da safra 2020, que nos levou a sonhar que outras iguais seriam constantes, veio a safra 2021, misturando muitas safras em uma só. O inverno foi muito bom, com horas de frio normais, indicando que teríamos outra safra excepcional. Não tivemos grandes geadas após a brotação, mas desde o início percebemos uma quantidade menor de uvas em todas as variedades. Um longo período de seca na floração provocou desavinho em diversos vinhedos - falta de polinização que faz com parte das bagas não se desenvolvam - o que diminuiu mais ainda a produção.

É quase comum uma estiagem pronunciada em dezembro, quando as bagas aumentam de tamanho, passando do chamado “ponto de ervilha” para seu tamanho definitivo. É importante alguma chuva neste período para que os cachos cresçam naturalmente, sob o risco de, após longo período de seca, as bagas crescerem muito rapidamente, provocando algumas rachaduras em suas cascas. Felizmente, mais uma vez a chuva veio no momento certo, permitindo o adequado enchimento das bagas.

Outro fato que chamou a atenção nesta safra foi o Pinot Noir começar a “pintar” no dia 20 dezembro, quando o normal é acontecer no início de janeiro. É quando a mudança de cor das bagas, do verde para o tinto, indica o final do crescimento dos cachos para o início do período de maturação. Em função destes fatores, já era previsível alguma antecipação do ciclo total, mas ainda tínhamos muito tempo pela frente.

O ciclo de maturação –da mudança de cor até a colheita - é muito influenciado pela amplitude térmica que, com temperaturas mais baixas no período noturno, promove maturação mais lenta, mais longa e permite que as colheitas aconteçam bem mais tarde, do início de março até o final de abril, quando o clima já é de outono. Esta é uma característica da altitude, colheitas com tempo mais seco, maturação lenta e completa, mantendo a acidez elevada.

Mas as noites não foram tão frias como esperado, o que seria normal num ano “normal”. E o calor e a chuva se estenderam pelo mês de fevereiro contribuindo para que nossa primeira colheita tenha acontecido no dia 22 de fevereiro, a colheita mais cedo em toda nossa história.

No final de março, só faltava colher a Cabernet Sauvignon. Em alguns anos anteriores chegamos a colher esta variedade no início de maio, com as folhas já coloridas pelos tons outonais, do amarelo ao marrom, passando pelas belas nuances de cores que enfeitam nossa paisagem.

A crença de que safras menores produzem vinhos melhores certamente não se aplica em nossa região. Podemos afirmar que safras maiores e melhores dão menos trabalho e que as safras menores fazem com que a dedicação no campo seja intensa, com limpezas de cachos constantes e olhar atento.

Certamente, nesta safra 2021 nossos vinhos terão muito do nosso esforço e toda nossa dedicação irá certamente estar presente em nossas garrafas. A mão do homem junto com a mão da natureza sempre em busca da perfeição.

Saúde! E bons vinhos...

Colheita Pinot Noir 2021. Créditos: Eduardo Bassetti.

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