O que tem o vinho

O que tem o vinho

por Eduardo Bassetti

Neste espaço, o vinho é o sujeito principal. Desde a história, até as técnicas atuais de elaboração, os temas aqui tratados passam pelo plantio das uvas, cuidados com os vinhedos, processos de fermentação e curiosidades do mundo do vinho, sempre com a colaboração de um apaixonado por fazer e beber vinhos.

eduardo@villaggiobassetti.com.br

Um Clarete

Publicado a(s) 10:36h do dia 30/11/2016

Cabernet Sauvignon pronta para a colheita - Villaggio Bassetti

Meu avô Juca Pioli fazia vinho branco com uva Niágara e tinto com uva Tercy, mais conhecida hoje como Bordô, todas de origem americana da família vitis labrusca. Ele tinha muito orgulho de seus vinhos e, orgulhoso, contava que um amigo que tinha viajado por diversas regiões da Europa – algo muito raro na metade do século passado – havia comentado que o vinho tinto produzido por meu avô parecia um Clarete!

Clarete ou Claret, são as denominações usadas pelos ingleses para identificar os vinhos tintos de Bordeaux exportados para a Inglaterra na Idade Média. E Bourdeaux Clairet é usada atualmente pelos franceses para vinhos rosados mais escuros, normalmente com Merlot.

Tiradas as devidas emoções, esta história ficou na minha memória e me recordei dela noutro dia quando estava na casa de um amigo que me ofereceu um vinho feito com uvas que ele produzia. Era um Cabernet Sauvignon 2007, já com seus oito anos, muito elegante, álcool abaixo de 13%, acidez presente, sem aromas herbáceos, muito agradável e fácil de beber. Chamou-me a atenção sua cor mais clara do que a grande maioria dos Cabernet Sauvignon de nossa região. Certamente um vinho elaborado com uvas maduras e sadias, mas que não foi submetido a uma extração muito intensa, sem taninos excessivos, o que permitiu criar um vinho macio e elegante mesmo sem passagem por barricas de carvalho.

O vinho que provei foi elaborado na vinícola do Renato Damiani, em Urussanga, com uvas produzidas na Estância do Meio, em São Joaquim, do vinhedo dos meus amigos Zaga Costa – que deve estar tomando vinhos muito superiores em companhias celestiais - e seu filho Adriano, que cuida com muito capricho e zelo das uvas que produz.

Para fazer bons vinhos com a Cabernet Sauvignon não precisamos elaborar vinhos encorpados, com muita extração e muita madeira. Com brotação tardia – é a uva que brota mais tarde em nossa região – sofre muito menos com as geadas primaveris, garantindo boa produção em todos os anos. Seu maior defeito aparece quando colhemos a uva ainda verde, longe de seu ponto ideal de maturação, revelando aromas herbáceos fortemente marcados pela pirazina, que exprime aromas típicos de pimentão verde. Quando se apresenta de forma sutil, o aroma herbáceo pode ser característico, mas quando se sobrepões aos outros aromas mostra-se bem desagradável.

Acredito ser este um estilo de vinho que poderá fazer muito sucesso na nossa região, pois por prescindir das dispendiosas barricas de carvalho podem ser comercializados por valores acessíveis, a uma quantidade maior de consumidores.

Convém lembrar que a Cabernet Sauvignon - a vitis vinifera mais plantada no Sul do Brasil – é resultado de um cruzamento natural entre as variedades Cabernet Franc e Sauvignon Blanc, e nada melhor que um destino mais adequado para esta uva tão difundida nas regiões de altitude da Serra Catarinense.

Em termos de harmonização, vinhos com este estilo são bastante flexíveis pela baixa carga de taninos. Serão sempre boa companhia para comidas típicas serranas como a polenta com molho de galinha ou o espaguete à bolonhesa que o Zaga costumava preparar para as chegadas das nossas muitas cavalgadas.

Saúde! E bons vinhos...

Colheita Cabernet Sauvignon 2011 - Villaggio Bassetti

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