O que tem o vinho

O que tem o vinho

por Eduardo Bassetti

Neste espaço, o vinho é o sujeito principal. Desde a história, até as técnicas atuais de elaboração, os temas aqui tratados passam pelo plantio das uvas, cuidados com os vinhedos, processos de fermentação e curiosidades do mundo do vinho, sempre com a colaboração de um apaixonado por fazer e beber vinhos.

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Dormência - Porque as videiras dormem

Publicado a(s) 15:34h do dia 07/08/2017

Vinhedos Villaggio Bassetti (Foto: Fernando Laske).

Um dos ciclos naturais da videira é a dormência, que acontece entre o final do outono e final do inverno. Neste momento a planta já cumpriu a missão de se perpetuar, produzindo frutos com os quais elaboramos os sucos, as geleias e o vinho e que através de sua semente irá garantir a continuação da espécie.

A videira, assim como as muitas variedades de plantas com origem nas regiões mais frias do Hemisfério Norte, perdem as folhas durante o ciclo de inverno. As macieiras, pessegueiros, ameixeiras e árvores como o Carvalho, o Acer e o Plátano mostram bem estas características, com sua folhagem mudando de cor, do verde para o amarelo, do amarelo para o vermelho e finalmente para o marrom, tingindo o outono com suas cores deslumbrantes.

As plantas nativas do Brasil não tem este mesmo comportamento, sendo seu ciclo marcado com mais evidência pela floração. Acontece com os Ipês, que só perdem as folhas durante a florada, com a Bracatinga, com o Manacá da Serra. Elas não entram em dormência!

Durante a dormência a planta diminui seu metabolismo devido à sua determinação genética, adquirida na sua adaptação na natureza do inverno gelado de sua origem. Nesta ocasião, quanto mais frio, melhor!

Da mesma forma que os ursos hibernam para não morrer de fome, as plantas nestas condições de frio, não podem ter folhas ou ramos com água (seiva), pois esta congelaria e acabaria matando a planta. A água é o único composto que aumenta de tamanho ao congelar! Quem nunca esqueceu uma garrafa no freezer para comprovar esta afirmação?

Os ursos, durante a dormência, diminuem seu metabolismo para economizar energia. Se estivessem à cata de comida gastariam calorias que não poderiam repor pela falta de alimento e morreriam de inanição. As videiras morreriam pelo congelamento de sua seiva. Da mesma maneira, se a brotação iniciar antes do inverno terminar, os brotos sofrerão com o frio e não produzirão frutos impedindo a continuidade da espécie. Como se costuma dizer, a natureza é sábia e somente os mais adaptados sobrevivem.

Na altitude da Serra Catarinense o clima se assemelha ao clima da Europa, com as quatro estações bem marcadas, contribuindo para que o ciclo natural das videiras seja a regra. Frios tardios, como as geadas primaveris, também são comuns, assim como na França, a exemplo do que aconteceu neste ano em Bordeaux.

Só nos resta esperar que a natureza seja pródiga mais uma vez, como foi na safra 2017, permitindo um longo inverno, sem surpresas, como calor ou frio fora de época.

Os viticultores e os apreciadores do bom vinho agradecem!

Saúde! E bons vinhos...

Vinhedos Villaggio Bassetti (Foto: Fernando Laske).

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